Batizada em homenagem à musa da Nouvelle Vague, a curadora, jornalista e documentarista Anna Karina de Carvalho assume a direção geral do Festival que se dedica ao trabalho de cineastas estreantes no mundo
*Criadora do BIFF , Anna Karina promete novidades para a edição de 2020, como a criação do BIFF Júnior
*Exibição, em primeira mão no Brasil, do documentário ‘Anna’, sobre a vida da grande estrela do cinema francês Anna Karina e dirigido pelo viúvo da atriz, o cineasta norte-americano Dennis Berry
A vida da jornalista, produtora e cineasta brasileira Anna Karina de Carvalho sempre esteve relacionada ao cinema. A começar por seu nome de batismo, que faz homenagem à atriz e cantora Anna Karina, a mais emblemática do cinema francês, grande musa da Nouvelle Vague, estrela de filmes de cineastas como Jean-Luc Godard, falecida em dezembro de 2019. Com mais de 20 anos de atuação na indústria do audiovisual, Anna Karina de Carvalho assume, a partir deste ano de 2020, a direção geral e a curadoria de um festival único no Brasil, o BRASÍLIA INTERNATIONAL FILM FESTIVAL, que se dedica à produção de novos realizadores. O BIFF acontece de 21 a 26 de abril, em Brasília, trazendo novidades como uma mostra especialmente dedicada ao público infantojuvenil.
Assumir a curadoria de um grande festival não é novidade para ANNA KARINA DE CARVALHO. Ela já compôs a curadoria de mais de 50 festivais no Brasil e no exterior, foi uma das principais difusoras do cinema brasileiro na Europa, sendo pioneira em mostras de cinema brasileiro na Europa – como o Brazilian International FilmFest, que ela criou em Estocolmo. Também atuou como curadora e gerente geral do Festival Internacional de Cinema de Estocolmo, sendo responsável pela criação, em 1998, do STOCKHOLM INTERNATIONAL FILM FESTIVAL JUNIOR, o braço dedicado ao cinema infantil e infantojuvenil do festival.
A experiência de abrir as portas para o cinema produzido para crianças e adolescentes será repetida em Brasília, pela primeira vez, este ano, com a criação de uma mostra especialmente dedicada a este público no 7o BIFF. A mostra vai criar e capacitar uma curadoria mirim formada por jovens entre 09 e 17 anos.
A AMIZADE COM ANNA KARINA
O fato de haver sido batizada com o nome da atriz símbolo do mais importante movimento do cinema francês talvez tenha traçado a trajetória da brasileira Anna Karina de Carvalho em direção à arte cinematográfica e mesmo em direção à musa que lhe deu o nome. Não foi por acaso que, logo na primeira edição do Brasília International Film Festival, em 2012, a grande homenageada foi exatamente a atriz e cantora Anna Karina, que veio ao Brasil especialmente para a ocasião. Em poucos minutos estava criada uma amizade que seguiria até o último ano de vida da atriz, falecida em 14 de dezembro do ano passado. Pouco tempo antes, a brasileira Anna Karina teve um último encontro com sua xará, em Paris.
As duas Anna Karina encontraram-se algumas vezes depois de 2012, sempre no mesmo café, em Saint Germain. Em maio de 2019, não foi diferente. Anna Karina de Carvalho decidiu, ao lado do diretor Marcio de Andrade, aproveitar o encontro para fazer uma entrevista para o programa ‘Caminhos da Reportagem’, da TV Brasil – que irá ao ar no próximo mês de abril. Fumante inveterada, naquele dia, Anna Karina não fumava, mas tossia muito. Entretanto, não revelou à amiga brasileira o problema de saúde que a levaria à morte.
“Ela estava com o mesmo look de sempre: blazer vermelho, camiseta listrada, calça jeans, chapéus e óculos escuros Ray Ban”, revela Anna Karina de Carvalho. E continua: “Chegou acompanhada do marido, Dennis Berry, e me deu aquele abraço e beijo doce. Pediu um vinho rosé. Conversamos muito, ela me contou detalhes da homenagem que recebeu no Festival de Cannes de 2018, e nos sentamos na calçada. Duas meninas, estudantes de cinema, passaram e se surpreenderam: “Anna Karina!!!” Anna sorriu e tirou os óculos. “Os olhos azuis esverdeados são os mesmos que marcaram uma época”, disseram as estudantes. E Anna falou que elas ficariam surpresas porque eu me chamava Anna Karina por causa dela, e que dirigia um festival de cinema em Brasília. Enfim, as duas garotas tiraram fotos, choraram de emoção. Anna falou para elas: “ Anna Karina é a filha que não tive… a minha soulmate”.
VIDA LIGADA AO CINEMA –Nascida em Brasília, Anna Karina de Carvalho foi batizada com este nome após sua mãe ler um artigo e ver uma foto da musa da Nouvelle Vague. Tendo mudado para São Paulo, começou a se integrar ao cinema após seus pais comprarem uma locadora de vídeo. Depois, ingressou por um concurso de estágio (estudante de Comunicação da FAAP) na TV Cultura em SP, em 1994/1995, trabalhando com grandes nomes do jornalismo brasileiro.Em 1995, mudou-se para Londres, onde após um furo de reportagem com o então ex-presidente Fernando Collor de Mello, que estava fora do país sem conceder entrevistas, foi convidada para ser correspondente do Jornal Euro Brasil Press.No jornal, fez entrevistas com José Saramago, cobriu o primeiro GAYPRIDE no HYDEPARK em Londres, além de reportagens como a licença maternidade e paternidade sueca.
Em 1996, mudou-se para Estocolmo, na Suécia. Cursou o idioma e trabalhou como professora de português para os funcionários da ERICKSSON que estavam de mudança para o Brasil.No ano de 1998, ingressou no Festival de Estocolmo como programadora e rapidamente começou a frequentar os mercados internacionais de cinema na seleção e filmes (Cannes, Roterdam, Berlim). No mesmo ano, fundou dentro do festival de Estocolmo o STOCKHOLM INTERNATIONAL FILM FESTIVAL JUNIOR. O diferencial do festival foi formação de uma curadoria mirim, festival de filmes de um minuto, e jornal impresso com críticas escritas por crianças e adolescentes. O JUNIOR lhe concedeu notoriedade na Suécia e levou à fundação de várias mostras semelhantes em países europeus como o da Macedônia.
Em 2002, se tornou cidadã sueca. No mesmo ano, ganhou um concurso de roteiros pela SVT – SwedishTelevision e SwedishFilmInstitute, pela obra ASSITENTEN.
De volta ao Brasil, trabalhou como gerente internacional do programa CINEMA DO BRASIL/APEX, responsável pela venda e divulgação do cinema brasileiro na Europa. Em 2003, fundou o Festival Internacional de Cinema Infantil (FICI), a convite da diretora Carla Camurati, e desde então fundou e trouxe festivais de cinema de vários formatos para a capital – Festival Internacional de cinema –FIC (Academia de Tênis), Festival do Minuto, ArtHouse, Festival de cinema do IESB, Curta Terraço e‘A tela na sala de aula’ (mostra especial para as escolas no CCBB).
Em 2012 abriu, em sociedade, o Cine Cultura em Brasília. Neste mesmo ano, criou, ao lado de seu sócio, o International Film Festival (BIFF). Foi editora chefe e jornalista responsável pela Revista TABU e, em 2015, ingressou por concurso na EBC (Empresa Brasil de Comunicação).Em 2017, recebeu o prêmio Vladimir Herzog pelo documentário MULHERES DO ZICA.
Anna Karina dirigiu os documentários UTROPIC NO UMBIGO DO MUNDO (vencedor do Candango de montagem) e o GERAÇÃO PROZAC.Em 2008, estreou como diretora de ficção no curta ANGÉLICA ACORRENTADA.
MUSA DA NOUVELLE VAGUE – A dinamarquesa Hanne Karin Bayer virou Anna Karina por sugestão da célebre estilista francesa Coco Chanel. Na época, estava recém-chegada de Copenhagen, de onde fugira ainda adolescente, pedindo carona na estrada, por conta de conflitos com os pais. Ao conhecer Coco, quando era modelo da revista “Elle”, a lendária estilista lhe previu um grande futuro. O prognóstico estava certo, mas não foi como modelo que Anna Karina alcançaria a fama.Além de se tornar a grande musa de Jean-Luc Godard – apesar de Jeanne Moreau, Jean Seberg e Brigitte Bardot -, ela foi a atriz mais luminosa e emblemática do cinema francês dos anos 60.
Foi vendo Anna Karina num comercial de sabonete que Godard se interessou por ela. Ficaram casados durante sete anos, fizeram sete longas-metragens e o único episódio realmente memorável de “A Mais Velha Profissão do Mundo”. Uma parceria fecunda que rendeu obras-primas como “Viver a Vida”, “Pierrot, leFou” e “Alphaville”, além dos adoráveis “Uma Mulher é Uma Mulher”, “O Pequeno Soldado”, “Band à Part” e “Made in USA”. Foi, sem dúvida, a melhor e mais inspirada fase da obra godardiana. Poucas dobradinhas atriz-diretor deram origem a tantos e tão grandes filmes.
Com Godard, Anna Karina viveu a melhor fase de sua extensa filmografia, que inclui trabalhos com outros grandes diretores – como Luchino Visconti (“O Estrangeiro”), Jacques Rivette (“A Religiosa”), George Cukor (“Justine”), Valério Zurlini (“Mulheres no Front”), Rainer Werner Fassbinder (“Roleta Chinesa”). E, claro, Serge Gainsbourg, que a dirigiu no musical “Anna” e a elegeu como uma das intérpretes favoritas de suas lânguidas canções, ao lado da mulher Jane Birkin e de Brigitte Bardot.
Antes de atuar e de ser modelo, Anna Karina já gostava de cantar. Seus dotes vocais foram bem aproveitados por Godard em “Uma Mulher é Uma Mulher”, uma homenagem aos musicais hollywoodianos, e no cultuado “Pierrot, leFou”. Na pouco vista comédia musical “Anna”, em papel feito sob medida para a cantriz, interpretou repertório de Gainsbourg. A partir deste milênio, a música passou a ocupar espaço em sua vida profissional. Foi a partir do ano 2000 que lançou seus três únicos álbuns solo: “Une Histoire d´Amour”, “Chansons de Films” e “Vilain Petit Canard”.
Para o crítico espanhol Albert Galera, Anna Karina foi a mais perfeita tradução da Nouvelle Vague, o movimento francês liderado por Godard, François Truffaut, Claude Chabrol e Eric Rohmer. “Além da importante marca que deixou e da vigência permanente, a Nouvelle Vague foi o movimento cinematográfico mais apaixonado da história e Anna Karina e, por méritos próprios, a atriz mais apaixonada e apaixonante daquela maravilhosa época e a sua melhor representação possível. Sua espontaneidade e modernidade, além da falta de preconceitos, a transformaram na atriz perfeita para os propósitos desse cinema”, disse ele numa entrevista de 2011, em que falava sobre o livro que lançou sobre a atriz: “Anna Karina – a Princesa da Nouvelle Vague”.
Em 2012 abriu, em sociedade, o Cine Cultura em Brasília. Neste mesmo ano, fundou com Nilson Rodrigues o Brasília International Film Festival (BIFF). Foi editora chefe e jornalista responsável pela Revista TABU e, em 2015, ingressou por concurso na EBC (Empresa Brasil de Comunicação).Em 2017, recebeu o prêmio Vladimir Herzog pelo documentário MULHERES DO ZICA.
Fonte: Assessoria de Imprensa do Festival
*Foto: Divulgação
7o BIFF – BRASÍLIA INTERNATIONAL FILM FESTIVAL
Data: 21 a 26 de abril de 2020
Locais: Cine Brasília e SESC